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A Palestina é aqui

por: Nilze Costa e Silva

Dia 14, último, final da tarde, andava pela Av. Duque de Caxias quando me deparei com um corpo caído, trajes sujos e rasgados, atravessado na calçada. O menino, de uns 12 anos, estava desacordado. Os passantes olhavam e seguiam. Alguns com uma expressão de indignação. Pés descalços, um deles estava enrolado com uma gaze suja e supurava. O outro sangrava. Meu primeiro impulso foi rezar por aquele menino. Meio quarteirão andado, resolvi voltar. Isso não pode, não deve ser normal. Liguei para uma amiga da Funci. Tinha certeza de que ela ajudaria. Ela respondeu que não podia fazer nada, mas me indicou um número onde eu podia buscar ajuda: 08002850880. Do outro lado, uma gravação: “Você ligou para o Fala Fortaleza. Para a defesa dos Direitos da Criança, disque 8.

Uma voz masculina ouviu pacientemente a história. Pediu um segundo que durou mais que um minuto. “Obrigada por esperar. Senhora, sobre isso não podemos fazer nada. Ligue para o Samu”. Repeti tudo tendo a certeza de não ter sido entendida. Uma criança estava jogada no meio da rua, esfarrapada, talvez sob efeito de drogas, mas com os pés feridos. A indiferença do rapaz me deixou desorientada. Ia ligar para o Samu, mas lembrei de retornar para a amiga da Funci. Falou que esse não era o procedimento correto e que ia tentar outro número. Aguardei e fiquei lá, velando o sono inquieto do menino. Acocorei-me para ver melhor os ferimentos e chorei ante a minha impotência em ajudar aquela criatura. Parecia uma mãe palestina pranteando o filho morto. Liguei de novo para a amiga que concluiu: realmente não havia o que fazer, mas talvez alguém fosse lá ver a situação do garoto.

Não sabia mais onde guardara a minha fé. Diante de olhares curiosos, levantei-me, enxuguei os olhos com a manga da blusa e fui embora, revoltada, sem olhar para trás.

Nilze Costa e Silva - Escritora
nilzecosta@terra.com.br

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