Pular para o conteúdo principal

Entidades de direitos humanos se manifestam sobre crise no Ceará



O Estado do Ceará já enfrenta uma semana de uma onda de ataques criminosos que iniciou na capital e logo se chegou nas cidades do interior. Sobre o assunto, mais de 30 entidades de direitos humanos se manifestaram em nota sobre situação da segurança pública. 
Leia abaixo a íntegra do documento:

CANAL YOUTUBE

Nota de manifestação pública do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos do estado do Ceará

O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos do estado do Ceará (CEDDH – CE), órgão colegiado estabelecido pela Lei Estadual n° 15.530, de 02 de maio de 2013, repudia os graves ataques cometidos a partir do dia 02 de janeiro de 2019 contra veículos de transporte público, prédios públicos e estabelecimentos comerciais e as arbitrariedades e excessos no uso da força por parte de agentes públicos neste contexto. Este Conselho exorta o Poder Público cearense a que se comprometa com medidas pautadas na garantia e promoção de Direitos Humanos capazes de efetivamente superar a continuada e grave crise na segurança pública e no sistema penitenciário do Ceará.
Até o dia 8 de janeiro, a imprensa contabilizou 125 ataques em 36 municípios cearenses, que têm atingido profundamente o cotidiano do povo cearense, sobretudo das/os moradoras/es das periferias das cidades. O funcionamento do transporte público, do comércio e de serviços públicos estão prejudicados. Nesse contexto, este Conselho também tem recebido notícias de arbitrariedades e de uso excessivo da força cometidos por agentes de segurança pública, tais como invasão de domicílios, violência em abordagens policiais, suspeita de flagrantes forjados e prisões arbitrárias nas periferias das cidades cearenses.
Este ciclo de ataques é o acontecimento mais recente em uma longa crise no sistema penitenciário, marcada pela superlotação, morosidade na tramitação dos processos, a maior taxa de presos sem julgamento entre os estados brasileiros e ausência de oportunidades de educação e trabalho. É também o episódio mais recente em uma grave crise na segurança pública do Ceará, marcada pela vergonhosa posição de Fortaleza como a 7ª cidade mais violenta do mundo e o Ceará como o Estado com o maior índice de homicídios de adolescentes, um aumento de 73% no número de assassinatos de mulheres somente entre 2016 e 2017 e um aumento de pelo menos 385% no número de mortes por intervenção policial desde 2013 no Ceará.
Nestes primeiros dias de 2019, este Conselho, assim como outros órgãos, conselhos e organizações da sociedade civil, têm recebido notificações por parte de familiares quanto à ausência de informações em relação à localização de presos e mesmo quanto à adoção de procedimentos e práticas atentatórias a dignidade e a integridade física e psicológica de homens e mulheres em diversas unidades prisionais do Estado. Este Conselho também tem recebido notificações específicas sobre ocorrências de castigos físicos e até a negação do direito de acesso à água potável para mulheres presas no Estado. Neste momento de pânico e sofrimento da população cearense, não se reduzirá a violência atentando contra dignidade de familiares e internos.
O Conselho compreende também que o início da nova gestão do Governador Camilo Santana e a criação de uma secretaria especializada de gestão penitenciária poderiam representar uma oportunidade para a adoção de medidas com consequências duradouras e que pudessem atacar os reais problemas da gestão prisional, com foco em reduzir a violência dentro e fora das unidades. No entanto, há que se ponderar sobre a forma de implementação das medidas desta nova gestão, a fim de que elas não reproduzam práticas de violação de direitos humanos nas unidades prisionais do Estado, tais como as relatadas no recente relatório do Mecanismo Nacional e do Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura sobre o sistema prisional do estado do Rio Grande do Norte.
À vista do exposto e buscando aprimorar as políticas de promoção e defesa de direitos humanos no Estado, o CEDDH informa que instará o Sistema de Justiça e órgãos nacionais de defesa de direitos humanos, para que haja uma pactuação interinstitucional com vistas a monitorar e acompanhar as medidas que têm sido adotadas por órgãos estaduais e federais no âmbito da gestão penitenciária e da segurança pública do Estado, incluindo os excessos e arbitrariedades no uso da força por agentes públicos nas periferias das cidades cearenses, bem como para que haja uma abertura cada vez maior desses órgãos à população cearense que vem sofrendo os efeitos dessa operação e aos familiares de pessoas que estão custodiadas nas unidades prisionais cearenses.
Por fim, o Conselho reitera sua disposição para colaborar nas ações que levem à superação da crise na segurança pública e no sistema penitenciário do Ceará em seus reais problemas, sem o império do medo e da violência, na observância da lei e no pleno exercício das suas instituições garantidoras, ao tempo em que manifesta sua profunda solidariedade com todas as vítimas dos ataques e dos atos de violência institucional que tem acometido dezenas de municípios do Estado do Ceará.
 

  • Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos do Estado do Ceará

Subscrevem também o teor desta Nota: 

  • Plataforma de Direitos Humanos – Dhesca Brasil
  • Conselho Nacional de Ouvidorias das Defensorias Públicas
  • Comissão Brasileira de Justiça e Paz – CNBB
  • Justiça Global
  • Articulação de Mulheres Brasileira – AMB
  • Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Ceará
  • Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares (RENAP/CE)
  • Fórum Popular de Segurança Pública do Ceará (CE)
  • Fórum Permanente de ONGs de Defesa de Direitos de Crianças e Adolescentes (CE)
  • Movimento Cada Vida Importa (CE)
  • Fórum Cearense de Mulheres (CE)
  • Frente de Mulheres de Movimentos do Cariri (CE)
  • Conselho Estadual de Direitos Humanos e Cidadania do Rio Grande do Norte (RN)
  • Centro de Referência em Direitos Humanos Marcos Dionísio (RN)
  • Instituto de Pesquisas e Estudos em Justiça e Cidadania – IPEJUC (RN)
  • Observatório da População Infanto-juvenil em Contextos de Violência/UFRN (RN)
  • Observatório da Justiça e Cidadania do Rio Grande do Norte – OJC (RN)
  • Escritório Popular Paulo Freire da UFERSA (RN)
  • Frente Estadual pelo Desencarceramento do estado do Rio de Janeiro (RJ)
  • Coletivo Maré 0800 (RJ)
  • Conjunto de Favelas da Maré (RJ)
  • Articulação Julho Negro (RJ)
  • Fórum Grita Baixada (RJ)
  • Rede de Comunidades e Movimentos Contra Violência (RJ)
  • Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares – GAJOP (PE)
  • Fórum Popular de Segurança Pública de Pernambuco (PE)
  • Coletivo Liberta Elas (PE)
  • Assessoria Popular Maria Felipa (MG)
  • Grupo de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade de Minas Gerais (MG)
  • IDEAS Assessoria Popular (BA)
  • Odara Instituto da Mulher Negra (BA)
  • Amparar – Associação de Amigos e Familiares de Presas e Presos no Estado de São Paulo
  • Grupo de Rap Comunidade Carcerária (SP)
  • Coletiva Em Silêncio (RJ)
CANAL YOUTUBE2

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

ORIGEM DOS FONTENELE

Por : NONATO ADIODATO ilustração/ brasão Os FONTENELE constituem uma família única no país. Originada a partir de JEAN FONTENELE, engenheiro de Minas, nascido em Melun, na França, e que veio para o Brasil em 1750 integrando uma comissão da ordem da Corte de Portugal, atendendo solicitação do Padre José da Rocha, para pesquisar ouro e prata na serra da Ibiapaba. Fixando-se na aldeia de Viçosa, Jean casou-se com Umbilina Maria de Jesus, filha de Manoel Gonçalves Rodrigues. Deste casamento proveio a numerosa família. São seus filhos: Felipe Benício Fontenele; Rosa Maria Fontenele; Guilherme Fontenele; Agapita Fontenele; Paulo Fontenele; João Damasceno Fontenele; Plácido Fontenele; Ludovica Fontenele e Amaro Fontenele. Jean Fontenele faleceu no dia 08 de dezembro de 1809, numa sexta-feira, e coincidentemente sua mulher Umbilina faleceu onze anos depois, também no dia 08 de dezembro de 1820, numa sexta-feira. Ambos estão sepultados na Igreja Matriz de Viçosa. Em Ipueiras, os FONTENELE ...

POPULAÇÃO

Uma população , em e cologia , pode ser definida como um conjunto de indivíduos de uma mesma espécie que vive em uma determinada área em um determinado momento. Uma população tem seu tamanho alterado constantemente em decorrência de diversos fatores. Ela pode diminuir, por exemplo, em consequência de  mortes e migrações   e aumentar em decorrência de  nascimentos e imigrações . As mortes, nascimentos, migrações e imigrações estão intimamente ligados a fatores como a disponibilidade de alimento, condições ambientais, predadores e a reprodução. O planeta Terra não é bem distribuído em termos de população. A demografia é a ciência responsável pelo estudo das populações humanas. É por meio do arcabouço teórico e metodológico desse campo do conhecimento que é possível compreender o perfil e a dinâmica das populações, a forma como elas se modificam e evoluem no tempo e também a sua correlação com o espaço. Basicamente três aspectos de uma população são analisados pela demog...

Dança ou Luta? Novo documentário "Leruá do Mestre Noé" celebra a cultura e tradição

A tradição e a modernidade se entrelaçam harmoniosamente no curta documental "Leruá do Mestre Noé", dirigido pelo talentoso Lira Dutra. Este documentário oferece uma visão íntima e cativante da rica cultura de Granja, Ceará, celebrando a fascinante dança folclórica conhecida como Leruá, conduzida pelo carismático Mestre Noé de Sousa. Leruá do Mestre Noé" é mais do que um simples registro histórico; é uma ode à resiliência cultural e à identidade de uma comunidade. O filme destaca a dança do Leruá, que combina movimentos de combate com cantigas improvisadas, criando uma expressão cultural única que une gerações e preserva a essência da cidade. Com uma abordagem sensível, Lira Dutra captura depoimentos emocionantes dos participantes, imagens vibrantes das apresentações e as paisagens urbanas de Granja. A narrativa tecida ao longo do documentário é rica em memória e emoção, celebrando a continuidade e a vitalidade da tradição. Através deste filme, somos convidados a testemu...